Como é realizado o trabalho de gerenciamento da dor em Hospitais de Transição?

3/10/2024

A avaliação multidimensional da dor

O avanço da medicina tem mostrado cada vez mais que a dor física tem diversas causas, mais do que apenas alterações no nosso sistema fisiológico, as emoções também são capazes de causar dor física, o que amplia não apenas o conceito de dor, mas as suas formas de tratamento e de prevenção. Nesse sentido, a dor exige uma avaliação multidimensional para ser mais bem avaliada, e ser possível trabalhar diretamente na sua causa, e não apenas em reduzir o seus danos.

A avaliação multidimensional da dor é como o ponto de partida para entendermos de verdade o que está acontecendo com o paciente em termos de dor. Em um contexto comum, muitos profissionais usam da estratégia de perguntar, em uma escala de 0 a 10, qual é o nível de dor que a pessoa está sentindo, pois é uma interpretação muito subjetiva, visto que há pessoas mais e menos resistentes à dor em geral. A interpretação da dor também exige um entendimento muito mais amplo, ou seja, saber onde dói é importante, mas é necessário compreender outros aspectos que envolvem a dor: ela é constante ou pontual? Ela se apresenta em forma de pontadas, queimação, aperto em alguma região? Outra estratégia que pode ajudar é fazer gestos e uso de imagens, principalmente para as pessoas com maior dificuldade em se comunicar e interpretar uma escala de 0 a 10.

Como foi dito anteriormente, o emocional não é apenas capaz de proporcionar dor física, como realizar a sua manutenção, de forma que após um período de dor, o paciente pode apresentar mais irritabilidade, depressão, sensibilidade e essas sensações podem atrapalhar o processo de recuperação, visto que o impacto emocional pode ajudar ou atrapalhar o processo de gerenciamento da dor. Ah, e não podemos esquecer como essa dor impacta o dia a dia. A pessoa está conseguindo se mexer? Levantar, andar, fazer as atividades básicas? É necessário avaliar se a dor está impedindo a pessoa de fazer, porque às vezes o problema é bem mais funcional do que parece. Por exemplo, tem gente que diz que a dor piora ao tentar se levantar da cama ou ao caminhar por alguns minutos. Nesses casos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais entram com tudo, ajudando a reeducar o corpo e mostrar que, sim, é possível se mexer com menos dor – só que de um jeito diferente, mais gentil, talvez.

Outro aspecto importante é levar em consideração que toda dor pode ter uma história. Ela já existia antes da pessoa chegar no hospital de transição ou começou recentemente? É uma dor crônica, que a pessoa já lidava há tempos, ou é algo mais agudo, talvez consequência de uma cirurgia ou acidente recente? Isso faz diferença, porque o tratamento muda dependendo da origem e da duração da dor. Sendo assim, a avaliação da dor pode ser considerada um grande quebra-cabeça, onde cada profissional da equipe — seja médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, ou terapeuta ocupacional — junta as peças até ter uma visão completa de como a dor age. É só a partir dessa visão global que é possível pensar em um tratamento que vai além do gerenciamento farmacológico, há muitas outras estratégias complementares que devem ser usadas.

O gerenciamento da dor e o cuidado com a polifarmácia

O gerenciamento da dor, na nossa cultura ocidental, é amplamente resolvido com analgésicos e anti-inflamatórios. Os mais antigos ainda são mais resistentes ao uso indiscriminado de medicamentos, onde são capazes de curar muitas dores com diversas estratégias naturais e ancestrais, porém não é comum, e em um caso de Hospital de Transição, os quadros de gerenciamento de dor não são capazes de serem administrados exclusivamente com essas estratégias, porém devemos ter o cuidado de evitar o fenômeno da polifarmácia, que é o uso excessivo de diversos medicamentos em simultâneo, o que pode vir a causar a interações medicamentosas, com maiores e diferentes efeitos colaterais.

É muito comum que o uso medicamentoso seja o mais bem aceito pela sua eficácia, rapidez em resposta e confiança no tratamento, de forma que os pacientes com quadros graves de dor recorrem ao pedido do opioide mais famoso: a morfina. Apesar de ser muito benéfica em diversos tratamentos, a equipe médica busca sempre tentar minimizar o uso de opioides sempre que possível, por conta do risco de dependência e dos efeitos colaterais, que podem ir de uma simples tontura até problemas sérios de constipação, confusão mental e até quedas. Por isso, às vezes os médicos preferem incluir coanalgésicos, que são medicamentos que ajudam a tratar a dor de maneiras indiretas. Por exemplo, anticonvulsivantes ou antidepressivos podem ser usados para tratar dor neuropática, que é aquela dor que vem dos nervos, como acontece em alguns casos de diabetes. Assim, a gente pode reduzir a quantidade de remédios fortes, mas ainda manter o controle da dor.

A análise é sempre feita de forma individual e de acordo com a necessidade do paciente, mas a ideia atual é de garantir uma maior experiência de alívio da dor, sem construir a dependência de certos medicamentos, ou seja, não é apenas um cuidado com o quadro clínico apresentado naquele momento, mas com toda a saúde do paciente e com o seu bem-estar.

Terapias não farmacológicas no alívio dor

A medicina tem tido grandes avanços no estudo sobre as intervenções com terapia não farmacológico em vários âmbitos, mas em especial no alívio da dor, visto que como foi dito antes, muitas vezes o fortalecimento do sistema emocional do paciente pode ser um grande aliado de uma melhoria do seu quadro de saúde. Um exemplo bem prático são as sessões de fisioterapia. Quando a dor afeta a mobilidade do paciente, o fisioterapeuta entra em ação para trabalhar movimentos que ajudam a recuperar a função e, ao mesmo tempo, aliviar a dor. Isso pode envolver exercícios de alongamento, fortalecimento muscular, ou até técnicas de mobilização articular.

Existem diversas terapias milenares que voltaram a ser usadas nos tempos atuais, como a acupuntura e a massoterapia, terapias de relaxamento, como a meditação guiada, exercícios de respiração e até “mindfulness”, pois são métodos que auxiliar o paciente a lidar com a ansiedade, visto que essa é uma das responsáveis por piorar a percepção da dor. Então, ensinar técnicas de relaxamento é quase como dar uma ferramenta para que a pessoa mesma possa controlar melhor o desconforto. Os psicólogos também têm um papel fundamental aqui, principalmente com a terapia cognitivo-comportamental (TCC). Eles ajudam o paciente a entender como a dor está conectada aos pensamentos e emoções e a mudar a forma como ele reage a esse desconforto. Parece meio abstrato, mas é poderoso! Quando a pessoa muda a maneira de pensar sobre a dor, a intensidade dela pode até diminuir.

Para quem tem dores mais localizadas, o uso de calor ou frio também é uma saída simples e eficaz. A aplicação de compressas quentes ou frias pode ajudar a reduzir a inflamação, aumentar a circulação ou simplesmente relaxar a musculatura. Aqui a gente vê bastante gente que se beneficia desse cuidado, principalmente quando a dor é resultado de uma lesão ou cirurgia.

O uso dessas terapias não farmacológicas não impede o uso da intervenção medicamentosa, muito pelo contrário, são capazes de potencializar o tratamento de forma mais qualificada, personalizada, e sem riscos de efeitos colaterais. O objetivo é aliviar a dor sem sobrecarregar o corpo com medicação, dando ao paciente mais controle sobre a própria recuperação e qualidade de vida.

Educar o paciente e a família sobre o gerenciamento da dor

Quando falamos de educação do paciente e da família em um hospital de transição, estamos basicamente preparando todos os envolvidos para ser parte ativa no tratamento, principalmente quando a reabilitação é focada no retorno ao convívio domiciliar. Não basta só a equipe cuidar da dor do paciente, é essencial que tanto ele quanto seus familiares entendam o que está acontecendo, por que está acontecendo e como eles podem ajudar nesse processo. No fim das contas, quanto mais informado o paciente e seus familiares estiverem, melhores serão os resultados na gestão da dor e na recuperação como um todo.

O paciente precisa compreender a causa da dor, pois ela muitas vezes assusta, e a falta de clareza sobre ela pode deixar o paciente ansioso. Então, uma das primeiras coisas a se fazer é uma conversa aberta sobre a origem do desconforto: se é uma dor pós-cirúrgica, se vem de uma condição crônica, se está ligada a alguma inflamação ou se é uma dor neuropática, por exemplo. Quanto mais o paciente entende sobre a própria dor, mais tranquilo ele fica, e isso já pode fazer uma grande diferença. É necessário também compreender a sua duração, se é passageira ou mais longa e quais os principais tratamentos necessários para o seu gerenciamento..

A educação sobre a prescrição do medicamento, os exercícios a serem realizados e as terapias não farmacológicas que podem ser adotadas é fundamental, principalmente para que a família compreenda como pode se envolver no tratamento do paciente, como incentivar o paciente a participar e se sentir motivado a contribuir com a sua recuperação. Outra parte importante dessa educação é explicar que, muitas vezes, a recuperação é um processo. A dor nem sempre desaparece de uma hora para outra. Então, tanto o paciente quanto a família precisam entender que é normal ter dias melhores e outros nem tanto, mas que o caminho é persistir no tratamento. Se a dor mudar de padrão, se novos sintomas aparecerem ou se o paciente estiver com dificuldade em lidar com o desconforto, eles sabem que precisam entrar em contato com a equipe de saúde.

O ponto principal é dar autonomia. É muito importante que quando o paciente sair do hospital de transição, ele e a família se sintam preparados e confiantes para continuar o cuidado em casa. Tudo é uma grande parceria: o serviço oferece as ferramentas e o conhecimento, e o paciente e sua rede de apoio se tornam participantes ativos nesse processo, sabendo que podem contar com a gente sempre que precisarem, mas também prontos para dar continuidade à jornada com segurança e tranquilidade.

O Revitare é um espaço de cuidado para garantir todo o suporte que a família e o paciente podem necessitar, de forma a gerenciar a dor mais intensa, oferecer meios para os pacientes lidarem com o retorno do paciente para o domicílio e garantir um acompanhamento personalizado, e muito cuidadoso, para garantir o bem-estar e a qualidade de vida de todas as pessoas que nós atendemos.

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